Escorpiano da Lua

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Cinzentas nuvens...

Quando a sombra fria de cinzentas nuvens
pairaram sobre meus olhos já tão cansados
senti a brisa suave do teu sorriso.

Veio então a chuva em forma de Storm
escorrendo sem pressa pela minha pele
gotejando suavemente na minha alma.

Fez-se o cheiro de grama e terra molhada
e nesse caminho ladeado de sinceridade
senti minha essência se misturar com a tua.

Quando a névoa espessa e úmida se dissipou
via novamente a Lua surgir, diferentemente bela.
Era a Lua Nova. A Nova Lua.

Sorri o sorriso dos conformados
Amei o amor dos incompreendidos
Chorei as lágrimas dos indecisos.

E agora pressinto, e tateio, e vejo,
com uma tristeza que nem me cabe dentro peito
as nuvens surgindo diante de teus olhos tão belos.

Mas ainda não sei, meu amor,
como me tornar ventania...

sexta-feira, janeiro 21, 2005

O circo

Era como o mágico, a ludibriar sempre com um sorriso no rosto, tentando chamar a atenção da platéia para a mão vazia enquanto realizava suas prestidigitações, surgindo sempre com uma emoção nova ou um sorriso forçado, mas nem por isso mentiroso.

Também era como o trapezista a caminhar sobre um fino cordão de aço, apenas para provar que é possível enfrentar as dificuldades hercúleas da vida, mesmo com tantos espectadores desejando escorregões e desequilíbrios que tornariam o espetáculo mais emocionante. Mas ele segue, passo a passo, ignorando as vaias que atravessam seu coração como estrelas cadentes.

Era como o palhaço que, com suas piruetas e salamaleques, alegrava as crianças que ainda não haviam sido sequestradas pelas maldades da vida. E sorria e pulava e cantava, como se toda a felicidade do mundo se resumisse no espaço demarcado por aquele picadeiro de tintas já gastas pelo tempo. Só o que a platéia ansiosa desconhecia que por trás da maquiagem exagerada um homem chorava, por entender que a felicidade do mundo era mais importante do que a sua.

Era também o domador de mentiras indomáveis e adestrador de tristezas dispersas. Malabarista de sonhos impossíveis. Contorcionista de idéias. Os anos se passaram de picadeiro em picadeiro e ele colecionou lágrimas, aplausos e experiências.

Ele sabia que a vida é circo sem fim, com sua lona delicada estendida sobre nossos sonhos mais coloridos. As luzes se apagam e a cortina se abre: lá está ele novamente, tentando fazer alguém sorrir o velho sorriso dado sem que se note...

segunda-feira, janeiro 17, 2005

Palavras

Certas vezes as palavras não conseguem sair da nossa boca com a facilidade que deveriam. Palavras deveriam ser adestradas, para seguir fielmente as vontades de seu dono: "vai, Palavra, diz pra ela tudo o que se passa aqui dentro de mim". E então as Palavras sairiam leves como borboletas e doces como mel, adoçando seus ouvidos com poesias floreadas e falando de amor com a facilidade que deveria reger esse nosso mundo tão complicado.

Mas essas minhas Palavras estão arredias e assustadas, feito um animal preso e maltratado por ter cometido o crime de ter nascido livre. E Elas se escondem na toca da minha boca e só ousam sair pra beber as águas da tua saliva e brincar na inocência perdida da tua língua macia.

São Palavras fatigadas de um corpo também cansado, que já te deseja tanto e ainda mais. É um cansaço de alma, que busca nos teus braços o descanso tranquilo e um sorriso merecido. E enquanto você lê com sussuros as histórias da sua vida eu bebo de tuas lágrimas sinceras, tentando imaginar nessa mistura de alegria e tristeza qual é a dose certa de cada sentimento.

E esse dia chuvoso passa devagar enquanto a vida passa depressa demais, e as Palavras, impertinentes, insistem em dormir mansamente dentro de mim, enquanto você baila sorrindo no meu pensamento. E face essa tua quintessência de felicidade, essa tua alegria intrínseca, vejo que minhas Palavras não são nada mais do que as frágeis muletas de um combalido escrivão de sensações.

O sorriso mais lindo do mundo é daquela menina que disse que veio aprender, mas tem muito mais a ensinar do que imagina...

terça-feira, janeiro 11, 2005

Eclipse

Mais do que uma simples Lua, era um farol que iluminava a noite abafada e conduzia um navegante, daqueles dos mais errantes, para uma praia calma e de ondas suaves. Mais do que um Sol, era um astro perdido que lançava seus raios imaginários, ainda que quentes e amarelos, em as direções perdidas.

Era preciso aquecer, ele dizia, ainda que seus raios não refletissem de volta. Era necessário iluminar, ele insistia, mesmo que para isso fossem consumidas todas as suas reservas de energia, e não restasse mais dada à sua volta do que o frio vazio desse espaço atemporal.

Ela queria sorrir sentindo em sua superfície alva o calor de um sol que brilhava longe demais. Ela sabia, como todas as Luas e pseudo-Luas um dia irão saber, que o amor é uma dádiva e que o destino, esse sábio senhor sincronizador de tempo e espaço, algum dia olharia para ela com a devida atenção.

Então, eclipsaram-se.

sexta-feira, janeiro 07, 2005

Lolita

É essa tua alegria desmedida
teu sorriso agressivo e teu beijo gostoso

É essa tua boca diabólica
teu coração puro e teu corpo pecaminoso

É essa tua pele macia
teu cheiro de liberdade e teu olhar carinhoso

É em ti o que me atrai
e trai minha convicção
de que o amor não existiria mais

É desejo, puro.

E tudo se resume, sempre,
no rubro sol do desejo e da decisão*

*(Vladimir Nabokov, em "Lolita")