Escorpiano da Lua

segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Crepúsculo

Naquela estrada que leva para o mar eu sorri
pensando em coisas simples como o vento
o vôo cambaleante daquela borboleta amarela
os dedos de sol que entram furtivos por frestas de janela
teu sorriso sincero quando fala de bondades mundanas

Naquela estrada em direção ao pôr-do-sol multicromático
eu lembrei de sonhos infantis, empoeirados e adormecidos
em estradas ladeadas por araucárias gigantes
estar no meio de luzes e rostos desconhecidos
tocar com os dedos trêmulos a doce face do mar

Assisti, com a calma de quem aceita o inevitável
o inexorável avanço do crepúsculo da minha vida
e respirei o ar carregado de estrelas cintilantes...

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Horizonte

Com uma nova luz, que sejas sempre o que tu és,
fiel à imagem que tens de si mesmo.
Em montanhas e rios,
construirá represas douradouras.

Corre, amor!
Corre e explora as fronteiras do teu mundo.

Esse tranbordante dom de sabedoria humana,
que não confere poder, nem riquezas nem medalhas,
o derradeiro ponto onde é preciso chegar, já vive em teu coração.

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Colcha de retalhos

Nas noites úmidas do outono minha existência sentirá frio e sei que me cobrirei com a velha colcha de retalhos dos meus dias. Porque minha vida sempre foi assim, uma coleção de pequenos pedaços bem e mal vividos, meticulosamente costurados com as linhas da esperança de um sorriso melhor. E enquanto o sono reparador não chega, vou me distrair contando e revivendo cada pedaço daquela colcha.

Sei que irei passar os dedos carinhosamente pelos retalhos que considero mais belos, olhando com tristeza para as costuras esgarçadas que tentaram manter eternizada a essência desses dias que já não existem mais. Os fios se partiram e deixaram o calor da felicidade se evaporar em algum lugar do passado. Mas não que não exista a felicidade, mas ficou para sempre em mim aquela vontade de ter um pouco mais, como quem insiste em pingar gotas a mais em um copo já cheio, até que uma única gota faz transborbar o precioso líquido. E transbordando, tinge de carmim os retalhos não tão belos da minha vida.

Ah sim, porque nem só de bons momentos se faz uma existência. Existiram as mágoas, e eu magoei e fui magoado. Houveram as desavenças, porque eu agredi e fui agredido. Sem falar nas mentiras, porque mentiram para mim da mesma forma que já menti também (e atire o primeiro mouse quem nunca o fez)...

"Quem vive mente mesmo sem querer
E fere o outro não pelo prazer
Mas pela evidente razão: sobreviver..."

Agora eu sei - Zero


Sim, o trecho acima é de uma música antiga, mas eu também estou me tornando antigo, de modo que... Como é difícil para o escritor barato manter a linearidade do pensamento frente as parábolas da vida! Espero ser perdoado por isso também.

E vou tecendo os retalhos de meus dias com as linhas que tenho nas mãos. Nem sempre a costura se mostra profissionalmente boa, mas eu faço o que posso. Ou acho que faço, porque muitas vezes penso que poderia ser melhor (ou ao menos nem tão ruim), mas sempre esbarro em pequenas desculpas inventadas, farrapos de tecido que não deveriam ser aproveitados, fios de ouro que se partem.

Às vezes, meu amor, não me sinto aquecido o suficiente por esse cobertor vivencial. Não que eu sinta frio, espero que você entenda, mas tem dias que eu preciso sentir o calor que sai de mim, sem perceber que essa energia se dissipa com algo ou alguém. Talvez eu seja mais egoísta do que gostaria de ser, talvez seja sentido de sobrevivência. Quem é que pode dizer?

Por isso talvez chegue a hora de aposentar essa minha velha colcha de retalhos. Claro que não pretendo jogá-la fora, mas creio que ela ficará bem dentro do armário. Talvez eu fique melhor debaixo de um edredon novinho em folha (comprado durante um inverno particularmente rigoroso), vendo a neve que cai lentamente do outro lado da janela embaçada...

Fuga ou recomeço?

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Simetria do Amor

Aqui está a Lua cantando a perfeita simetria do Escorpiano.

Perdoe-me amor, mas esta noite
só porque te contemplava
meus olhos encheram de lágrimas.

A Lua chorando,
do ponto mais sublime da terra,
com sua luz de perfeição.

Dias calmos,
um sonho no céu vazio,
nuvens foram surgindo.

Escorpiano,o centro do amor.
Dentro dele arde a vida,
no fluxo da grande arte.
Sublevou a si próprio,
cantando solene
sua eterna melodia.

Escorpiano no tempo claro,
Escorpiano dentro da luz.
Escorpiano da neve branca.
Escorpiano nas alturas.
Escorpiano de formas místicas.
Escorpiano da Aurora.
Escorpiano na claridão da manhã.
Escorpiano dentro da noite.
Escorpiano sob o céu opressivo.
Escorpiano enrolado de primavera.
Escorpiano desnudo no outono.
Escorpiano da bondade,

Cante seus hinos ao céu.

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Não vou fugir

Não posso mais lutar
contra o que sinto
se sinto o que penso
você está sempre comigo

Não posso mais mentir
eu tinha muito medo
agora sei que eu te quero
com certeza

Eu não vou fugir dessa vez não
Eu decidi te amar assim
Eu não vou fingir dessa vez não
I don't wanna go
You know I love you

Eu quero te dizer
que este amor é mais forte
do que todo o orgulho
que ainda existe em mim

Ainda quero te falar
que sou outra pessoa
depois que conheci
este amor

Eu não vou fugir dessa vez não
eu decidi te amar assim
eu não vou fingir dessa vez não
I don't wanna go
you know I love you

Eu decidi... te amar...

Não vou fugir - Ive Mendes

terça-feira, fevereiro 08, 2005

Saudade...

"Escrevo versos em pergaminhos antigos
em paredes gastas pelo tempo
na pele de meus braços
e em tudo te vejo transfigurada:

Emanuela no ar soporífero das duas da tarde
Emanuela na calada respiração das rosas
Emanuela na clepsidra secreta das mariposas
Emanuela no vapor do pão ao amanhecer
Emanuela em todas sa partes
Emanuela para sempre..." (*)

A saudade é
tão intensa
que dispensa
explicação...

(*) Adaptado de Cem anos de solidão - Gabriel Garcia Márquez

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Arco-íris

Mesmo se você olhasse rápido, veria que ela não era uma garota normal, de dúvidas e suas soluções comuns. Tinha algo que a diferenciava das demais, mas quem não a conhecia achava que era apenas um reflexo proporcionado pelos seus longos cabelos vermelhos, de uma tonalidade que combinava com ela: intensa.

Porque tudo naquela menina tinha que ser superlativo. Sua bondade não tinha limites, seu amor era mágico e seus ideais, grandiosos. Um rosto delicado na multidão que se acotovelava, mas que possuia um olhar tão intenso que ofuscava qualquer tentativa de nulidade. Houve até quem conhecesse esse mesmo olhar bem de perto, com o agravante de ter seus lábios presos entre dentes carinhosos. Armadilha mortal, presa carnal, amor sem igual.

E se não falei dos sorrisos faço agora, pois de todos os sorrisos que conheci em minhas andanças, não me lembro de nenhum que tinha aquela força. Uma alegria que ultrapassava todos os motivos para derramar lágrimas dia após dia, uma Lua que brilhava acima de nuvens cinzentas, um sol que irradiava seus longos dedos dedos escarlates em meio à chuva e se fazia arco-íris.

Por isso, e por tanta coisa mais, foi impossível não amá-la.

terça-feira, fevereiro 01, 2005

De Carol:

Para vocês,

Que me amaram a vida toda, peço para que não chorem mais. A dor da perda sempre é grande, mas que fiquem gravados não os momentos tristes de despedida, mas sim todo o amor que dediquei e que me foi dedicado. E não se culpem por nada, porque apenas o ciclo da vida se cumpriu. Nasci, amei e fui amada, e agora parto com a sensação de que meu dever foi cumprido. Espero que vocês se sintam assim também.

E era, preciso dizer, um amor gratuito, daqueles que não se pede, só se tem. Um amor incondicional, porque mesmo tendo feito muitas coisas que não deveria, vocês continuaram a me amar. Amor compreensivo, porque mesmo sem dizer uma única palavra em toda minha vida, sempre fui atendida. Um amor fiel, pois mesmo eu tendo andado em tantos colos e tendo recebido inúmeros carinhos, meu amor será sempre de vocês que me trataram como um membro da família. E agora chegou a difícil hora de trocar as lágrimas pelo sorriso de uma lembrança boa, porque é assim que quero ser lembrada.

Meu eterno amor e gratidão.

Carol (miau...)