Escorpiano da Lua

sexta-feira, janeiro 21, 2005

O circo

Era como o mágico, a ludibriar sempre com um sorriso no rosto, tentando chamar a atenção da platéia para a mão vazia enquanto realizava suas prestidigitações, surgindo sempre com uma emoção nova ou um sorriso forçado, mas nem por isso mentiroso.

Também era como o trapezista a caminhar sobre um fino cordão de aço, apenas para provar que é possível enfrentar as dificuldades hercúleas da vida, mesmo com tantos espectadores desejando escorregões e desequilíbrios que tornariam o espetáculo mais emocionante. Mas ele segue, passo a passo, ignorando as vaias que atravessam seu coração como estrelas cadentes.

Era como o palhaço que, com suas piruetas e salamaleques, alegrava as crianças que ainda não haviam sido sequestradas pelas maldades da vida. E sorria e pulava e cantava, como se toda a felicidade do mundo se resumisse no espaço demarcado por aquele picadeiro de tintas já gastas pelo tempo. Só o que a platéia ansiosa desconhecia que por trás da maquiagem exagerada um homem chorava, por entender que a felicidade do mundo era mais importante do que a sua.

Era também o domador de mentiras indomáveis e adestrador de tristezas dispersas. Malabarista de sonhos impossíveis. Contorcionista de idéias. Os anos se passaram de picadeiro em picadeiro e ele colecionou lágrimas, aplausos e experiências.

Ele sabia que a vida é circo sem fim, com sua lona delicada estendida sobre nossos sonhos mais coloridos. As luzes se apagam e a cortina se abre: lá está ele novamente, tentando fazer alguém sorrir o velho sorriso dado sem que se note...

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]



<< Página inicial