Escorpiano da Lua

quarta-feira, dezembro 22, 2004

Flores na calçada

Um dia me contaram que existia um homem sem esperanças. Vivia como Deus queria, jogado nas ruas durante anos, sendo alimentado com restos de caridade e por pessoas que achavam que bastava um prato com restos de comida fria para alimentar aquele homem, numa hipocrisia velada para acalmar com urgência essa culpa que todos nós carregamos. Te dou comida, Deus me dá perdão, e está tudo certo.

O homem não falava, não incomodava ninguém com palavras. Ele era ninguém pra se lembrar, ninguém para se importar. Do seu rosto quase sem expressão não brotavam sorrisos, mas uma espécie de amargura mesclada com a indiferença daqueles que já não acreditam na vida. Seu corpo sujo e cansado descansava sobre um fino colchonete que já viveu dias melhores, e nos dias de chuva não tinha, e nem queria ter, um lugar quente para se abrigar.

Dizem que um dia passou pelo homem uma menininha, e do alto de sua inocência ela olhou para aquele homem sofrido e empertigado. Não haviam lhe ensinado ainda que deveria se afastar daquele homem, e por isso ela lhe ofereceu tudo o que tinha nas mãos: uma flor. O homem pensou em recusar ou até mesmo ignorar aquele pequeno ser que balançava aquela flor diante dos seus olhos, mas diante de tanta insistência ele finalmente aceitou, tomando cuidado para não encostar seus dedos naquele anjo, como se isso pudesse quebrar algum tipo de encantamento.

Quando o sol nasceu novamente, as pessoas voltaram a passar pelo local onde o homem costumava ficar, mas ele nunca mais foi visto. A maioria sequer notou sua ausência e só algumas viram uma flor desenhada na calçada. Mas uma garotinha ingênua entendeu que muitas vezes basta apenas um simples sorriso para fazer alguém continuar a viver.

Por você, minha menina. Que me sorriu quando eu mais precisava...

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