Escorpiano da Lua

terça-feira, junho 21, 2005

Quando morre o poeta

A caneta foi posta de lado e o papel já amarelado que se espalhava pela mesa e ganhava displicentemente o chão. Não foi pela falta de idéias nem de vontade que as letras deixaram de fluir de suas mãos cansadas, mas já não via mais os finos dedos de luz que penetravam através da janela fechada. Não se importava mais, pois sua mente flutuava e se misturava com a fumaça de seus cigarros enquanto seu corpo subumbia lenta e docemente.

O poeta estava morto, mas suas palavras ganharam a libertade.

Quando um poeta morre suas palavras finalmente se libertam e ganham vida própria, indo brincar em campos abertos e ensolarados, sem as frias barreiras de concordâncias e regências verbais. Sem a preocupação literária exagerada, as frases flutuam como nuvens e ganham os tons brilhantes de uma purpurina imaginária.

As borboletas dançam agitadas quando um poeta morre, porque ele não vai para um paraíso decretado por igrejas mundanas. Sua alma descançará eternamente nas flores do campo, em sorrisos ingênuos de crianças, em promessas de enamorados. Já não existe mais separação possível entre sua existência e seus sonhos perdidos, porque não existem mais caminhos diversos para escolher. Ele se torna sussuro e confissão e renasce em suas próprias loucuras e adivinhações.

Quando o encontraram ele ainda conservava as marcas das lágrimas derramadas sobre os papéis e o sorriso tranquilo daqueles dormem em paz. Seu amor agora seria eterno e ninguém mais duvidaria de seus juramentos feitos com tanta paixão.

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